Por Marina. Para Marina.
Aprendi que Brasília foi erguida para afastar a política do brasileiro. Há quem diga que tirar a capital da costa revolucionou o Centro-Oeste e permitiu que hoje a gente muja mais do que chore. Quase dois bois para cada habitante. Dois bois numéricos, calculados, mas distantes e crescendo soltos no pasto, em regime de engorda para serem, daqui algumas semanas, esquartejados e não caírem no prato do brasileiro que mais precisa.
Não conheço Brasília. Da região centro-oeste, viajei rapidamente para Goiânia e tive questões com o excesso de calor e de secura. Dizem que é uma viagem bacana e que nem tudo é terno e gravata na capital do país. Um Brasil de extensão continental, mas que a capital segue apartada e ainda na corrida para atingir a velocidade ideal e um dia lançar o tão sonhado voo projetado pela elite do início da década de 60.
É evidente que a Internet, as redes sociais aproximaram a política que se esconde nos labirintos dos Três Poderes. Uma forma eficaz e barata do jornalismo e do seu João se antenarem, supervisionarem e estabelecerem um diálogo mais fácil com o que está em discussão e pode, no mês que vem, cair como um bomba atômica e derrubar o maxilar de quatro de uma vez só. Afinal, viver no Brasil é precisar fazer as pazes com o absurdo. Ainda mais, aqueles tantos que passeiam livres na saliva ácida dos caretas e lunáticos do Planalto. Todos eleitos.
Foi pelo estudo das Relações Internacionais que eu entendi que a política segue a mesma trajetória de desapontamento constante. É preciso ter uma frieza polar para conseguir ser um analista e destrinchar o que se esconde por trás das manchetes ou, por exemplo, o motivo de determinado assunto pipocar no noticiário escandalosamente, enquanto outra votação, ainda mais urgente, passa despercebida. É um jogo constante e que não tem fim. Um jogo que, muitas vezes, não está nada preocupado com as consequências atrozes, com o número de vítimas ou de famélicos, apenas na reafirmação da hegemonia e do poder já sedimentado.
Com o fim da crítica e as algemas que movem o mundo ainda mais apertadas, é preciso uma lupa ao ouvir cada comentário, cada posicionamento dos ditos especialistas que definem a opinião pública. Muitos são mais promoters neoliberais do que estudiosos e foram colocados para representar com pompa o lado de uma empresa ou de um oligopólio. Em outras palavras, há muita gente ruim e com o bolso cheio em posição de destaque neste momento. Por outro lado, há realmente eventos que produzem uma revolta colérica até da classe mais reacionária.
O ataque truculento contra a ministra Marina Silva na Comissão de Infraestrutura do Senado é indigesto por uma explosão de fatores. Para a geração Z ou para a geração Alpha, a hierarquia, talvez, recaia de maneira insustentável, seja uma forma absurda e retrógrada de gestão e blá blá blá. Agora, o mundo ainda gira assim e deve seguir por algum tempo na mesma toada. Um estagiário não tem o mesmo conhecimento do que o chefe, a criança não conhece da vida mais do que o avô e por isso que a escuta é tão importante. Certamente, bem mais importante do que os setecentos cursos de Oratória que são vendidos por dia no Instagram, mas isso é assunto para outro dia. A falta de respeito de determinados senadores enquanto Marina Silva tentava falar deveria ser motivo de advertência ou qualquer outra punição. Uma postura medieval que promoveu náuseas aos brasileiros já descrentes.
Marina Silva repete que saiu fortalecida. Eu não tenho dúvidas. Difícil é entender como que deixam uma ministra desta magnitude ser comida pelos leões em praça pública? Como que não expulsam qualquer senador que ameace usar palavras de baixo calão contra qualquer outro que se propõe ao diálogo? Ainda mais quando esse outro é um ministro? Um show de horror que não tem como ser aceito, que não pode ser pormenorizado e muito menos esquecido. É vergonhosa a qualidade do nosso Senado. A qualidade da nossa política.
Marina Silva é uma mulher preta, brasileira, de origem humilde, que tem uma carreira política exemplar por muitos anos, principalmente no que envolve às questões ambientais. Assumiu uma pasta que foi devorada por extermínios e desmandos nos quatro anos de bolsonarismo e que tem se esforçado para recuperar todo o tempo perdido. É uma ministra. Uma ministra do Meio Ambiente sendo atacada às margens da COP30. Um ataque feito pelo pior que ainda se arrasta nos corredores desta Brasília fria e distante. Esta Brasília que não pode mais existir.
Por Marina.
Para Marina.
Ministra Marina e Marina ministra.
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Lucas Galati
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