PALAVRA ERRADA
Quem imaginaria? 36 primaveras completas e eu ainda tão desajustado…em mim. Desencaixado da fôrma, melhor assim? Terças em que eu sou um lunático irremediável ou pelas quintas, quando me escondo na figura de um patife irreconhecível. Aos domingos, eu escorro propositadamente pelos cantos da casa e sigo as abelhas que me visitam por razão alguma. E não são pêsames, eu certifico. Esses há muito não me assombram. É, de fato, a crueza-cruel da constatação. De que eu pouco me tive nesses anos passados e que a atitude não foi um acaso, uma consequência impensada, mas um projeto calculado. Um estudo meticuloso de como satisfazer o outro e manter a qualquer custo o bem-estar de uma relação, de uma vida a dois, mesmo que o saldo fosse repetidamente negativo e extinguisse, quase sempre, com as minhas expectativas possíveis e nada hollywoodianas.
Honestamente, eu andei bem sem paciência para os meus melodramas. Evitei o assunto, falei de maneira simplista e poucas lágrimas escorreram desde o fim do meu último relacionamento que, hoje, já consigo dizer ser um dos maiores erros da minha vida. E que o anterior a este, eu até hoje lustro as minhas galhadas e que, aos 36 anos, sobre o amor, eu definitivamente conheço muito pouco. Sei falar do amor que EU senti, do gosto inconfundível de ter me doado para alguém, de me contorcer entre frestas e trincheiras para renovar a altura da chama, mesmo que isso implicasse numa criatividade impaciente e quiçá na anulação de uma gama de desejos particulares. Repetir aos amigos um enredo amoroso que só existia na minha cabeça e no próximo filme da sessão da tarde. Sei dizer sobre integridade e respeito, também sobre elencar um número infindo de objetivos românticos intangíveis e jogar na mesa as minhas melhores cartadas, só até não restar qualquer dúvida, só até que a segurança pudesse dar os primeiros passos e a pessoa te retribuir com uma intimidade confortável.
Mas se eu já fui amado? Eu cultivo dúvidas sinceras e arrebatadoras. E nada mais justo, afinal o meu entendimento de amor é meu. E se ele fosse o termômetro, a resposta óbvia vocês já teriam tido de maneira bem mais direta e ainda no começo deste texto. Sinceramente, deixo hoje o questionamento ser estilhaçado pelos ponteiros e sem resposta, pulo três casas e descanso em vantagem. Demorei para sair na frente, mas agora entendi o desajuste. Como eu estive desencaixado de mim e de como a minha forma de amar, nunca ME levou em conta. Certamente, os escolhidos não ajudaram. Ambos egocêntricos. Ambos introvertidos. Ambos sentimentalmente infantilizados. Um deles mais hedonista do que outro, mas ainda farinha do mesmo saco. Inesperadamente, a minha pétala de “mal-me-quer” apontou para uma direção oposta e promissora e agora o caminho não tem mais volta. Ainda bem.
36 primaveras e esse é o único molde que eu quero, algum dia, suportar. Um molde particular, possessivo, exato. Um molde que me pertence, a morada que me compete e que deve ser cuidada e valorizada na sua potência, na sua magnitude, na sua multiplicidade. Um molde que eu cansei de rejeitar. Que eu não quero mais apagar, negligenciar, pormenorizar. Que eu tome a minha dança e que eu saiba realmente esperar por alguém que queira descobrir novos passos, novos ritmos. Sem esquecer as marcas do meu: corpo.
Lucas Galati
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Viciado nesse show e no álbum Prenda Minha de Yamandu Costa e António Zambujo
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só sabemos falar de amor de uma perspectiva: a nossa. todo o restante, para o bem ou para o mal, é uma fantasia que criamos. às vezes, parecida com o real; noutras, bem distante dos fatos.
A vida é um ensaio, sempre estamos achando que o espetáculo está definitivamente do jeito que imaginamos ,mas percebemos que não,Mas será que não é legal a gente viver ensaiando e inventando a gente? VIVA 3.