Quando menos se espera
Talvez, eu realmente me tornei alguém que valoriza rotinas.
Não foi de caso pensado, mas uma consequência da insegurança que me assombra desde menino. Afinal, nem poderia ser diferente quando as suas referências não se ajustam numa camisa de time de futebol e a gravata aperta como uma forca monocromática.
E aqui vai um vídeo bem fofo e explicativo para quem sentir vontade de sobrevoar os tormentos que moram dentro daqueles que, definitivamente, não descobriram a rota até o pote de ouro no final do arco-íris, mas que, angustiados e perdidos, encontraram nessas cores, uma perspectiva mais segura e possível de pertencimento.
A rotina, por vezes, atormentadora, valida a firmeza do chão e permite a chegada de novos embarques. Foi assim que descobri a intimidade e nunca mais desisti desse percurso. E intimidade é quase como se ver em dois, uma embriaguez que demanda na mesma medida em que ensina. Todos os dias. Uma espécie de arte que parte da premissa da exposição completa. O íntimo não tem escapatória, não tem esconderijo. E também vicia. E também se apaga. Inesperadamente…
E entre as labaredas e a extinção, você faz uma escolha. A escolha de se doar para esse cenário de extremos ou fechar a porta de uma vez por todas. Eu aprendi, não sei exatamente como, que com um bom assopro, o fogo pode se renovar e a intimidade ressurge na intensidade de um mito.
Pois é, mas mitos não existem. Não são suficientes nas ondas da rotina que ensopam o universo conjugal. E sem resposta, eu me abro ao necessário questionamento de que navegar pela tempestuosa intimidade também se faz obrigatória a imposição sadia de um limite. Conheço de trás para frente, a lógica perversa de sustentar um relacionamento sozinho. Calar as minhas insatisfações e seguir, infeliz, pelo medo da mudança.
E nesse compromisso torto, a queda é brutal, dolorida e desonesta. Cai como um luto e a solidão se expressa em tumultuadas noites de desespero. Por sorte e por anos de terapia, faço deste balaio, a chance de partilhar. Partilhar a dor sempre adjetiva. E poder piscar novos horizontes no apoio de quem se mantém pronto para mim. De quem não titubeia. Não deixa para depois.
Foi assim com você.
Eu te vi crescer e por muitos anos, quis amparar todas as suas quedas. Quis estar ali, preparado para quando o mundo te machucasse. Quis evitar que um ambiente familiar tão inconstante e nocivo, provocasse fendas incuráveis — como as minhas. Quis que você falasse comigo. Que não tivesse medo do meu ponto de vista. Quis me mostrar estável e pronto. Quis acelerar o tempo para te dar mais idade e me ajudar a absorver a quantidade de coisas que eu não entendia. Quis experimentar tudo para suavizar as suas desistências. Quis te dar livros para que o seu feminino se tornasse motivo de orgulho e de luta.
Eu não sei se consegui, mas a vida é engraçada.
Agora, foi você, o meu porto. Você que estava preparada e assumiu a rebeldia que me faltava. Jorrou, enraivecida, as palavras que eu não conseguia dizer. Foi você que me tirou de casa e repetiu, incansavelmente, a minha importância. Não suavizou, não agrediu. Foi exata.
E, então, eu entendi que existe uma intimidade que se constrói no berço. Que não é dizível. Um vínculo que não espera contorcionismos e esforços desumanos para se manter aceso. Uma ligação tácita que faz eu duvidar do meu ateísmo e respirar o futuro com o peito aberto e finalmente protegido. Por saber que eu tenho você.
Você, minha menina. Minha mulher. As quatro letras mais bonitas do mundo.
Eu te amo, Lara.
Lucas Galati
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