O Herzog deixei para outra encarnação
O último prêmio que recebi foi num festival de poesia do colégio. Estava no Ensino Médio e conquistei o segundo lugar com direito a uma estatueta dourada, comprada na 25 de março. A vitória, que contou com auditório lotado e festival de palmas, também foi pela minha proximidade com a professora de Literatura. O texto era medonho. Uma coleção de sinônimos, sugeridos pelo Word, espalhados sem qualquer linearidade ou intenção por uma folha de papel sulfite.
De lá para cá, não fechei nem cinquina. Vestibular foi uma tragédia. Estudei igual a um condenado e a segunda fase da FUVEST ficou apenas nos contorcionismos da imaginação. Também não dou sorte com prêmios de clube, sorteios de shopping e até no chopp em dobro, a garçonete checa três vezes o meu merecimento pago. Minha trajetória profissional foi construída tendo como base o total anonimato. Permaneço roendo os cantos da redação, sem que ninguém, ao menos, se lembre de que uma espécie estranha de jornalista habita os corredores durante a madrugada. A estratégia permite que eu mantenha o meu salário vivo, mas há léguas de aumentos, reconhecimento ou do emocionado discurso com um Herzog na mão.
Mas não me dou por vencido. A Mega-Sena da Virada leva as minhas apostas e eu ainda cultivo essa mania incômoda da escrita. Quem sabe ela ainda me leva para algum lugar? Risos verbais. Em 2200, serei eu nos Alpes Suíços com toda a minha obra na mesa. Livros de auto-ajuda e dicas de como fiz a minha fortuna multiplicar. Calma! 2200 eu serei apenas pó e o mundo, provavelmente, estará queimando ou betumado por um vírus mortal. Tá vendo? Nem na mentira, eu convenço. Erro na data. Foi quase, bem perto dessa vez…dizem que sinceridade exagerada pode ser autismo ou Asperger.
Agora, falando sério. Certamente, devo morrer escrevendo. Calma, amados. Se uma linha de auto-ajuda despencar do meu pulso, pode internar. Terei desistido e o próximo passo será alguma visão divina ou culto suspeito. Melhor a camisa de força! Seguirei na mesma toada que vocês conhecem e, é claro, que entre trancos e barrancos, sonho com novos livros de poesia, com o meu primeiro romance, um livro de contos fantásticos, um roteiro para uma série espetacular, com mais e mais pessoas bacanas por aqui. Sonho em ser lido. Essa é a mais pura e lustrosa verdade. Escrever é a atividade mais solitária que existe e se faz tão valiosa justamente quando alguma conexão nasce despretensiosa. Quando, por alguma razão, o leitor encontra nas linhas um refúgio, um respaldo, um motivo para querer mais de você. E eu não quero nada além disso. E nas minhas discussões vermelhas com o Tempo, eu venço o fim com a Ideia. Núcleo que nasce tão privado, tão secreto, mas basta um empurrão, um sopro, uma camada, uma inversão para desaguar em movimentos públicos, ígneos e revolucionários.
Lucas Galati
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