INDISSOCIÁVEL
E se o amarelo pintar iluminado? Do meio de alguma víscera deslocada ou qualquer outro canto proibido? Não verbalizado? Intransponível? E se a cor for contagiosa e, aos poucos, o gosto quiser provar da saliva trocada e se mostrar mais convincente do que todas as razões que explicam a morte? E se pequenezas distraídas forem realmente brotos abastecidos de manhã? E que germinam das demandas inexplicáveis construídas na mesma força que já quebrou tantas portas? E se eu não puder dizer? Não puder acender nenhuma luz e esperar uma resposta das estrelas? Do inverso? Da última flor que eu assoprei ao vento?
Eu tenho medo também, sabia? Medo de destino. Medo de circunferências. Medo de nunca mais sair do lugar. Medo de conversar demais com a minha sombra e me apaixonar por irrealidades que, mais tarde, me afogarão em algum córrego imundo. Hasteio o meu nome e lembro do sinal da cruz que já me destruiu. E te cobram os mastros, másculos, masculinas asfixias. E eu sou leve e eu adoro congelar parcelas de ar em bolhas meninas. Flutuar aos mandos de receitas, de encantos e feitiços. Saber (in)existir sobre o asfalto que constrói ou destrói a todos o mesmo caminho. E se falo em veredas, eu ainda penso na água que responde a qualquer estímulo. A água que sai de mim na tristeza, no gozo que sempre deixo para depois, nas fases da Lua.
Só tenho o tempo e nem ele. E o excesso dos meus restos, os passados amarrados que eu não digo. Que eu não sei. E estipulo um X a ser quantificado. Uma proporção que certifique o tamanho do pulo e se ele realmente valerá a pena. Conto os vagões, conto as despedidas e uma palavra se solta das voltas da minha língua saudosa. Só o vento escuta. E a madrugada já me excitou. E as drogas já fizeram o seu sentido. E um verso incômodo arranha a minha garganta. Um verso envergonhado, mas cheio de canto. Um verso esculpido.
E toda vez que eu volto, eu me desamarro no sofá. Derreto e libero as nuvens que habitam o meu corpo encarcerado. O meu corpo desconhecido. O meu corpo afônico e dependente. Ladrão do outro e das batidas alheias. Batidas que copio, sem quebras, sem sobras. Batidas e hemácias. Batidas na minha porta. Não minha. Alguém já esteve pronto? Afinal, o que explica o abraço? Um beijo bem dado? Onde está a linha? A ponte que se abre? A tesoura que se corta?
Acho que a certeza é só um jeito de mentir.
( tem alguém aí?)
Lucas Galati
Ilustração: Chiara Ghigliazza
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