CONJECTURAS
Em Riga, as ruas de pedra grossa se confundiam para despistar e pouco antes do astro despontar agudo, um norte medieval se exibia para o encontro dos apaixonados ou dos proibidos. O amor ainda esquenta no copo que hidrata uma senhora que se vira na cama, no horário exato, para relembrar de olhos abertos e esperar o canto do mesmo pássaro e um centauro altivo cruza o meio do sonho da garota que não entendia para onde os travesseiros deviam nos levar. Os retalhos estão expostos no chão da casa que viveu um infortúnio e um milagre deve nascer do encontro entre a escondida raiz do cerrado e as condições da madeira molhada de uma santa que nunca foi quista. Na semana passada, um vento forte e cheio de toxina derrubou o centésimo ano da árvore que mantinha viva a morada do último exemplar de uma espécie de doninha que usava a saliva para brotar flores de um roxo singular. Um navio afundou no Golfo do México e uma letra de música clássica se desintegrou, antes de atingir um nível de profundeza desconhecido ao homem. No oitavo andar de um prédio em Nova York, um jovem apaixonado e com um vinho na mão escreveu uma carta de despedida para o parceiro que escolheu fazer das palavras, armas afiadas. Um quadro de Pollock aterrissou há pouco na sua cidade natal e três avestruzes aprenderam juntos a medir a intensidade de uma corrida no quadrilátero que fortalecia um cativeiro. Amanhã, a Terra completa 10 anos de pirexia e uma cerimônia saudosista deve acontecer, mas sem endereço confirmado. Um cantor bêbado cruza com uma mulher coberta e discorre no dia seguinte sobre o conflito de um olhar assombrado para uma plateia com mais de cem pessoas. O chefe de uma multinacional castiga toda a equipe com demandas extras e gritos guturais por erros inventados — a forma que encontrou para suavizar a falta de sexo que destrói o seu casamento. Em Itanhaém, o filho do melhor pescador descobre o gosto do linguado e um fandango inesperado toma conta do vilarejo. Um tsunami deve se formar na costa oeste do Japão, mas não vai provocar maiores danos, apenas suaves marolas que vão ajudar as tartarugas maiores a chegarem mais rápido na orla para a desova, minutos que não serão estudados pelos cientistas, mas que poderiam render uma instigante descoberta sobre a espécie.
Lucas Galati
PS: Se você não entendeu esse texto, releia!
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se vai beneficiar as tartarugas, tá valendo... elas já sofrem tanto!