INSOLENTE
Não quero falar dos melhores livros do ano e nem do motivo que me faz gostar mais de Björk do que de Madonna. Não quero que você esteja por aqui apenas para esperar dicas de outros textos capciosos ou restaurantes de qualidade Michelin. Não quero te impressionar com os meus desenhos ou reforçar a cada edição da newsletter o quanto estou feliz pelo meu segundo livro de poesia. Também não desejo perder o meu tempo para explicar a valia da liberdade e como ela sempre será motivo de batalha no mundo e nem que os gatos me agradam bem mais do que os cachorros. Poderia, quem sabe, desenvolver um texto sobre amizade e o quanto esses vínculos são cíclicos e voláteis, mas, ontem, eu me esqueci com uma música de Caetano. Não quero ser um mensageiro da felicidade e nem prometer constância. Não vou mentir sobre os vãos e rachaduras que eu escondo com camisetas de cores escuras e nem que eu ligaria novamente, mesmo sem ter o que dizer. Não minto o meu amor pelo Brasil, mas tenho pensado seriamente em ir embora. Não quero repetir que o jornalismo segue branco e rico e que nessas linhas virtuais, eu escrevo como, uma vez, idealizei a minha profissão. Que eu brinco ser um colunista de sucesso, que eu jamais serei e não pelo meu pessimismo voraz ou pela falta de sorrisos, mas por não ser irmão de um diretor famoso, o meu tio não ser um executivo de uma empresa de grãos ou por não ter sido apadrinhado por um enorme escritor norueguês. Não pretendo escalar o Everest, mas imagino conhecer o Japão. Quero descrever as maravilhas vistas no Camboja, mas por enquanto eu só tenho uma pia suja. Não quero desistir da inclusão e das mudanças urgentes nos comandos das empresas, mas o capitalismo se importa mais com quem eu trepo do que com o meu investimento num curso de especialização em Cinema ou com as parcelas insolúveis que me fizeram desistir de um amado MBA de Relações Internacionais. Não quero ser um oráculo fitness cheio de receitas carnívoras ou explicar o melhor jeito de assar abobrinhas. Também não sei lidar com dinheiro e isso, talvez, tenha alguma relação em ter perdido o meu pai tão cedo. Não quero ser referência e nem mostrar o meu humor ácido num vídeo de 40 segundos na Internet. Não quero ter medo da próxima esquina, mas o amor ainda se veste de verão e os adjetivos e as hipérboles saem com mais facilidade nas altas temperaturas.
Por enquanto, eu só quero acompanhar os brotos de motivo e seguir com essa mania estranha de brincar com verbos ou com parágrafos cheios ou vazios de sentido.
Lucas Galati
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a escrita artesanal - longe de inteligências artificiais e fórmulas vazias - já é coisa pra caramba!
Eis que me deparo com esse bloco de texto do tamanho do mundo, do peso do mundo, da cor da alma.