AFLORA

A flor-cadáver brotou fétida do outro lado do mundo. Um grupo de cientistas australianos disseram se tratar de um evento de extrema raridade e pediu para a multidão se acalmar nas filas que se formaram do lado de fora do jardim botânico de Sydney. Milhares em busca da fragrância de carne podre que dominou os arredores e as agitadas narinas curiosas que não se incomodavam em esperar por mais de três horas para degustar do espetáculo.

A leitura foi quase obrigatória. Uma ordem dada pela Meta, logo que eu abri, ainda sonolento, o meu celular e que serviu de tempero para o meu sonho seguinte, já que voltei a adormecer antes mesmo de chegar ao final da notícia. No entanto, entre corredores oníricos, nuvens de sabão e o som descomunal do meu ventilador, dediquei um tempo consciente para mergulhar em tamanha surpresa. Da flor, o cheiro de carne podre é uma profícua contradição. Um presente que eu, particularmente, embrulharia, em sigilo absoluto, e deixaria na porta da casa de pelo menos uma mão cheia. E quantos ditados, não? Não julgue o livro pela capa poderia ser um exemplo. Gosto desse por me desmontar em desanimadas partes. Euzinho que sempre bati no peito e vociferei a minha habilidade em decifrar tipos humanos, coleciono hoje diversificados arrependimentos. Uma lista que só cresce. E, agora, José?