A culpa é do calor
Não sou do Carnaval. Nunca fui. Infelizmente, a minha “lista de contras” acaba sempre mais extensa. No ano passado, eu ainda me arrisquei pela vontade do ex em cair na folia, mas realmente não é para mim. As dificuldades são atrozes em escalar o pico da felicidade extrema e sair pulando os desafios insalubres que demandam uma aventura por um bloco, por exemplo. O excesso de pessoas, a dificuldade em encontrar um espaço ou um banheiro para um xixi em paz, a bebida sempre quente, os bêbados alucinando, a música baixa ou totalmente indecifrável e o calor. O calor realmente é o principal elemento de negação carnavalesca e em tempos ativos de destruição ambiental, já me sufoca encarar um relógio de rua que insiste em marcar 40 graus e sem nuvens aparentes ou sinais de chuvas.
Encarar uma temperatura desta magnitude se torna sustentável apenas com um mar azul e gélido ou uma piscina na minha frente. Como nenhuma dessas opções são viáveis nesse momento, encaro passeios mais low profile e me divirto em assistir aos blocos pela tela de celular. Avaliar a fantasia derretida do amigo e julgar o nível de curtição dos envolvidos numa foto mal tirada em meio a multidão. O panorama só deve mudar se nublar o dia ou se a minha prima amada, que ainda vai tocar em dois blocos de éssepê, insistir demais na minha presença. Fora isso, estou realmente fechado para esse tipo de êxtase.
Agora, eu me pergunto… Qual seria o problema em trazer os blocos para o período da noite? Errado pensar nisso? Final da tarde então? Todos eles começando por volta das 17h00? 18h00? Há alguns anos, existia uma festa que se chamava SP NA RUA. Alguém se recorda? Era genial. Festas para todos os gostos em diferentes partes da capital paulista e, se eu não estiver enganado, começava a noite e percorria a madrugada inteira. Um sonho para aqueles que, como eu, abominam os efeitos do calor demasiado. Prefeitura querida (ironia), bora olhar os termômetros e notar que ninguém anseia por um desmaio na avenida?
Mas realmente é inegável o quanto a cidade fica bem mais bonita com as pessoas tomando as ruas e ainda coloridas pelas fantasias. É bonito ver a região central, costumeiramente apagada, sendo um dos palcos principais da festa, abrindo os braços para receber a multidão, dias em que se troca a negligência pela concreta transformação. E, apesar da sabida ingenuidade, o jornalista aqui cultiva um sonho senil. Vivenciar o dia em que o poder público decida desenvolver políticas que não estejam sedimentadas apenas na grana e nos conchavos, mas de mãos dadas com a Academia, com os estudiosos especializados em urbanização: arquitetos, sociólogos, engenheiros…uma força-tarefa para a construção de uma cidade democrática e finalmente viva.
PUFT! Estourou a minha bolha! De volta de vez para a realidade esticada como a cara do nosso prefeito fascista.
REVIRAVOLTA…
Mas calma lá! Eu não quero nenhuma conclusão down repleta de vampiros e mortalhas. Hoje é um dia MUITO especial. Dia de Oscar, bebê! Um dia da gente celebrar a nossa Fernanda Torres e o aclamado “Ainda Estou Aqui”. Eu pedi reunião familiar e churrascão com os amigos. Todo mundo junto para celebrar a vitória que já aconteceu. Não há dúvidas. Depois de 4 anos do desgoverno do Bolsonazi, um filme que retrata os horrores da Ditadura Militar chegar no coração de Hollywood indica uma trilha de esperança e de fomento à nossa cultura. Estatueta alguma tira isso. Já fica essa lição. Façamos arte. Qualquer que seja. Sabemos do dilema de que bilhões na conta e famílias influentes ajudam na caminhada, mas não importa o alcance. Façamos por nós. Por qualquer outro motivo. Mesmo que ninguém mais acredite.
E contem, onde vocês acompanharão a cerimônia?
Um beijo, andantes!
Lucas Galati
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eu tenho plena certeza de que bloco não é pra mim. nem faço o esforço de tentar dar uma chance.