Zona de guerra
Demorou mais de uma década para caber e me vestir ainda que incômodo e desigual. Demorou mais de uma década para eu poder falar sobre e, quem sabe, me gabar do entendimento sob medida. Corpo e mente realmente caminham juntos, mas nem sempre de mãos dadas. Quase nunca em acordo de paz. Aliás, a relação, por aqui, sempre se deu de maneira engasgada e juro que fiz questão de suavizar na dimensão do adjetivo.
Não diria que o principal problema foi com o espelho. É que a penitência não era exatamente com o meu reflexo. Não cultivava raiva das minhas pernas magrelas, com a proeminência do meu nariz, o cabelo oleoso ou com os meus joelhos saltados. Talvez, apenas na pré-adolescência, mas nesse período carregava um ódio borbulhante da minha existência como um todo. Hormônios jorrando para esquerdas e direitas. Um terror. Uma revolta equipada e um impressionante poderio bélico escondido debaixo da língua. Agora, até hoje, basta uma noite mal dormida e a mente cinzenta de cansaço para o corpo desencaixar e eu querer pular pra fora. O pior é que é por meio dele que eu sei me queixar daquelas dores sufocantes de tão fundas, sem nome, dores difíceis de empacotar em palavras. A falta de uma definição plausível, de um motivo claro ecoa em lombalgias, enxaquecas ou engasgam a garganta numa espécie de azia insistente.
Quero dizer que o corpo sempre perdeu para a mente. Não fiz dele flexível ou ultra musculoso. Não me preocupo com a alimentação, massagens e nem passo hidratantes depois do banho. Por outro lado, há mais de 14 anos trabalho a mente toda semana. Cinco estrelas nas mais variadas linhas da psicologia. Um privilégio inegável e que me dou ao luxo de aproveitar conscientemente. Não perco uma sessão. Ok! Concordo que a ansiedade me assombra desde muito novo e que a intensidade dos meus sentires, às vezes, é tamanha que explode para todas as extremidades. No entanto, essa escolha da mente pelo corpo não foi justa, uma vez que não há barricadas ou a sabedoria efetiva de onde um começa e o outro termina. E se estão alinhavados, onde estão os meus abdominais?
A preguiça é arrebatadora. Não tenho uma vida fácil. Trabalhar de madrugada obriga 8 ou mais horas de sono por dia, mas o exercício deve, de alguma forma, ser encaixado na rotina. Até porque ainda quero chegar bem aos meus 40 anos. Não aspiro gomos ou uma dieta baseada em frango e ovos, mas há um meio-termo e uma relação melhor com o que me empacota. O embrulho hoje está xoxo, capenga, manco, anêmico, frágil e inconsistente.
Não sei exatamente o que eu quis dizer até aqui. Penso que perdi um pai cedo demais. 58 anos com um infarto fulminante. O cigarro ainda me atormenta em noites embriagadas, mas durante a semana, em meio a rotina acachapante, me orgulha não acender nenhum irmão cancerígeno. Nenhum. Um caminho já está sendo esboçado, mas o leque de desculpas também está no bolso e não preciso de supinos e remadas para levantá-lo e sair por aí com as justificativas coloridas em exposição.
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Um beijo, andantes…
Lucas Galati
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Super interessante esse ponto de vista!
para mim, cuidar do corpo é, antes de tudo, uma questão de saúde. a estética, quando vem, está sempre a reboque.