Estrofes fevereiras
A poesia não foi a primeira opção. Não sei nem se hoje eu realmente faço dela a minha absoluta prioridade na criação textual. Só acho que existiu um instante em que eu entendi que passaria a escrever poesia. A conclusão foi digerida numa colherada, um gole amargo, de uma só vez; não ricocheteou, não esbarrou ou se apoiou em algum acompanhamento mais digestivo ou em alguma desculpa equivocada.
Comecei a arriscar os primeiros versos pela intensidade nervosa do meu despreparo sentimental. Não sabia e, até hoje, tenho dificuldades em delimitar a emoção que comanda o meu peito facilmente inflamável. Lá atrás, foi um amor ensopado pelo meu melhor amigo que gerou estrofes inéditas e violentamente sulfúricas. Já tinha sentido os efeitos da paixão por meninas do colégio, mas as mantinha na idealização, na distância necessária para que não se concretizassem. E sem nenhuma correnteza de realidade, as paixonites eram suavizadas ou até esquecidas pelos refrões manjados dos hits melosos do momento.
Agora, com o amor, não foi assim. Afinal, era a primeira vez que um sentimento tão famoso, tão rentável e tão universalmente apropriado se alojava nas constituições do meu coração moleque. Eu realmente tinha me infectado e um estranho espectro sintomático tomava forma e o peso paquidérmico de um monstro carniceiro, com asas diabólicas e uma sede em esmagar excitações infantis. Não podemos esquecer que o meu amor não era por uma menina. Era por um menino. E não um menino desconhecido. Era o meu melhor amigo.
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