✨Um erro de percurso?
Em três, em dois, em um…
Goodbye Zuck and agregados. DELETE? A implosão de todas as minhas redes sociais. O extermínio consciente de mais de duas décadas de existência sufocada dentro de uma tela de cristal líquido. Deixar de ser visto, assistido, comparado, odiado, quisto, seguido, bloqueado. Só imagine, genie? Aliás, esse termo maldito: os meus seguidores, nunca desceu. Um quê de seita que entala, uma guirlanda de cabeças, um número vazio que não se sente, que não diz nada. A centopeia humana, ao mesmo tempo, amiga. Ao mesmo tempo, culpada. Ainda mais no meu caso que me aventurei numa empreitada extinta e que aterrissou, depois de anos, em 19 mil amados. Agora, eu só escrevo cartas de despedidas. Nenhum culpado.
Testei muitos formatos, sempre pensando que, em algum momento, Zuck poderia dar uma mão e me ajudar na fórmula de um feromônio secreto e atrair mais gente que, enfim, compusesse um argumento inviolável para enfrentar uma outra batalha. A batalha de me ver e ser visto como escritor sendo um total desconhecido. Criei o nome, um perfil aberto, com tique azul e todos os outros gastos para deixar a máquina capitalista feliz. Uma estratégia tinha sido arquitetada. Quanto mais gente, mais exposição e mais chance eu teria de ser lido. Uma catapulta que também serviria para quando eu lançasse o meu sonhado primeiro livro. Não tinha como dar errado…
Não tinha como dar certo também. E juro que, na época, eu não sabia.
O formato se esgota. Você vira uma cópia fajuta de um bando que se diz escritor, mas que faz da poesia, uma rota de navegação pelos clichês dolorosos da autoajuda. Você se decepciona com a plataforma, com o viral do momento, com a sua timidez progressiva e a preguiça monumental em virar de ponta cabeça, trocar looks ou pular num pé só. Você amaldiçoa cabelos brancos e relê três vezes a explicação de POV. As trends, os topics e todos os seus tédios. E a plataforma segue impondo uma produção ainda mais sintética, palpável, assustadoramente óbvia. Metáforas afastam, textos prolixos não engajam e então com um sorriso discreto e um ângulo sortudo ou uma foto sem camiseta (eu não malho) ao lado de amigos da infância, você explode nas curtidas, vira uma sensação imediata e justifica a quantidade de pessoas que permanecem esperando: você. Você como conteúdo e jamais a tua escrita, o teu potencial literário, o teu desejo em ser entendido como escritor. E se, agora, que descobri essa nova casa, eu jogar um link chamando os de lá para cá, tentando atrair as atenções para um texto mais extenso, espreguiçado, o interesse é praticamente nulo. O registro de apenas UM clique no link divulgado e eu já me sinto nas nuvens. Cinco é motivo para lágrimas gordas. O interesse “instagramável” deve ser imediato. Não há tempo a se perder dentro de uma rede, onde tudo é efêmero e está sempre de passagem. O tempo virtual não é o tempo literário.
Justamente por hoje, enfim, entender bem desse choque de naturezas, a indecisão ainda permanece. Em três, em dois, em um e… nada. Caminho na outra plataforma equilibrado numa linha fina, na justificativa de ser um diário pessoal bem meia boca e totalmente dispensável. Compartilho fotos bobas e quando consigo desembolsar num evento cultural bacana, uns takes ou até vídeos mais instigantes, mas há um cansaço pertinente, uma falta de vontade em seguir na mesma toada.
E sei que é só um tipo de dormência depois de um tapa bem dado. Sem vitimizações ou cataclismas. A produção de qualquer tipo de arte deve também estar ancorada no que é real. Nos investimentos financeiros possíveis dentro do seu orçamento escasso, das gavetas que organizam a sua saúde mental, no quanto você deseja uma vida futura totalmente diferente.
O que eu mais gosto daqui é que eu sou lido e isso abastece. A troca é bacana e honesta. Ajuda a enfrentar as tantas outras frustrações. Vou contar uma boa. Estou com um segundo livro pronto. Poesia ainda. Já disse isso por aqui. E nessa estrada afora, eu realmente vou bem sozinho. Ainda bem. Ainda acho. Sem o rubro chapeuzinho, me apresento com a cara limpa, banho tomado, cheio de imaginação e nenhum medo de lobo mau. Até agora, foram mais de 20 editoras. Por aí. Um chute por alto. Nenhuma. Vou repetir para reforçar o espanto: NENHUMA encontrou tempo para ler o meu original. As respostas que eu obtive foram negativas sem a leitura de uma página sequer e todas seguem o mesmo padrão:
- Não aceitamos originais.
- Não aceitamos MAIS originais, a fila é extensa, meu amor.
- Não trabalhamos com poesia.
- Não vamos publicar mais nada esse ano.
- Não temos interesse no seu livro. Só publicamos grandes nomes.
- Agora, só no ano que vem!
No entanto, teve uma que se superou. Não direi o nome da editora por não querer processos ao lado da cama ou mais razões para dores de cabeça. Disseram assim:
- Desculpe! Nós só tratamos esse tipo de coisa com agentes literários. Sugerimos que você busque o apoio de um desses profissionais para avaliar o conteúdo da sua obra e auxiliá-lo com os processos para a publicação. Recomendamos que pesquise profissionais que tenham afinidade com a tua escrita.
Pronto! Era o que me faltava. Não basta mais falar com o autor. Com a pessoa responsável pela obra. Com aquele que sentou a bunda por vários meses e escreveu e editou e recomeçou e tentou de novo e abriu mais um parágrafo, mais um capítulo e repaginou e dividiu e suavizou até que um ponto final se materializasse na folha. A editora nega esse diálogo para falar com um agente literário que consiga remendar e definir os rumos de uma publicação não sua. Talvez, esse tipo de resposta seja costumeira e o meu espanto recorra da minha falta de experiência. Agora, eu fiquei tão boquiaberto que fui obrigado a responder com uma pergunta. Quantos autores vocês não perdem com essa implicação? Não que eles estejam, minimamente, preocupados. A máquina deve girar muito bem e obrigado. Detalhe importante: a editora em questão é grande e, como visto, o método de seleção de novos autores fundamenta-se na exclusão de muitos. Será esta a única? Não quero acreditar que todos os autores brasileiros de sucesso contam com a ajuda de agentes literários. Que todos conseguiram nome e sobrenome no mercado graças ao esforço destes profissionais. E se realmente for assim, que lástima!
A resposta dada é quase como dizer: sem contatos, sem contratos!
Hilda, me salve…
Lucas Galati
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
"Poemas aos homens do nosso tempo" in Júbilo memória noviciado da paixão/Hilda Hilst
❗OUTRAS EDIÇÕES:
✍️ A newsletter dos Andantes tem o modelo gratuito e o modelo pago. É importante destacar que no modelo pago, você vai contar com textos mais complexos e aprofundados sobre um determinado tema, dicas interessantes das mais diferentes ordens e para todos os estilos. Porém, o que é ainda o mais valioso para o presente autor é o texto em si. Seja a poesia, a crítica, a crônica, o conto…
A principal preocupação será sempre com uma construção textual criativa e inesperada. Costumo enviar uma nova edição da newsletter de 5 em 5 dias. Não deixe de arriscar os seus primeiros passos!
😜Só para lembrar que você pode adquirir o meu livro AQUI!
👀E se quiser me acompanhar nas redes virtuais:
durante um tempo, mantive o instagram acreditando que ele seria relevante para o projeto de ser um escritor publicado. depois, percebi que alimentar a rede me tomava muito mais tempo do que resultado (e do que eu estava disposto a dar). faz mais de um ano que deletei a conta e não penso em voltar. que paz! 😅
Lucas, me identifiquei muito com o seu texto. Ser ativo nas redes parece, de fato, um trabalho em tempo integral. Minha sugestão? Escreva. Continue escrevendo. Continue publicando, continue procurando saídas. Não pare por causa dos “nãos” das editoras, nem por conta da quantidade de likes, comentários ou visualizações. Escreva por você, pra você, pra aliviar, pra desabafar, pra colocar o sentimento do mundo pra fora. A arte existe por causa dos artistas e os artistas só existem por causa da arte, é a nossa resistência.