É curioso como sinto que não mereço fazer parte. Como se o meu anonimato esclarecido me fizesse menor e, às voltas com essa estatura psicológica, restasse somente uma gagueira incômoda na hora em que me vejo cercado pelas raízes reconhecidamente fundas dos gigantes da literatura, por exemplo. Ou visto a armadura de sombra e fico ruminando passadas até que uma impossível circunstância ocorra para que o meu cumprimento seja finalmente bem-vindo.
Há também uma dose em double de azar. Nos últimos tempos, as minhas tietagens se tornaram experiências tenebrosas. No Samba do Adilson, famoso em São Paulo, esbarrei com a cantora Tássia Reis. Infelizmente, já estava com algumas cervejas na cabeça que me levaram a uma intimidade fantasiosa. Tássia, por outro lado, se equilibrava com um hot dog na mão, quando eu desandei a explicar a importância da sua música na minha playlist. Ela se espantou com a abordagem torta e, com todas as razões, não demostrou qualquer interesse na minha opinião afetiva e alcoolizada. Ainda que eu consegui um abraço bastante desanimado.
A última foi neste final de semana. Com elas, definitivamente, encerro todo o meu empenho em arriscar novas tentativas. É que já são poucas pessoas no meu restrito balaio que me despertam uma verborragia alucinante. As primaveras também serviram para diminuir a minha predisposição ao diálogo sem travas, o que faz eu entender, de certa forma, a falta de vontade de se comunicar com um fã empolgado. Agora, a minha imaginação é saudável e permite que eu inverta os papéis momentaneamente. Mesmo com um hot dog, mesmo bêbado, com palpitação ou crise de ansiedade, acharia um barato me surpreender com um desconhecido que cultivasse admiração pelo meu trabalho. Falasse detalhes da minha escrita, textos preferidos, os livros que mais gostou. Escorreria espanto de todas as extremidades.
E essa idealização, talvez, se alimente da minha absoluta falta de costume em tal quesito. Afinal e evidentemente, uma abelha chata chamou mais atenção do que eu no FESTIVAL POESIA NO CENTRO, neste final de semana, no Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo. Um projeto necessário idealizado pela livraria MEGAFAUNA e que concluiu uma primeira edição belíssima. Uma reunião de poetas nacionais e internacionais e de admiradores da poesia de todas as idades. Um encontro que colecionou, ao longo de todo o final de semana, um número saboroso de mesas com escritores de peso no gênero literário e também deu alguma chance aos novos que, já inseridos até os joelhos no metiê, também puderam ter alguns minutos de declamação e holofotes.
E foi pelos meios do teatro que me deparei com Ana Martins Marques. SIM! Ana Martins Marques desta edição da newsletter! Uma das minhas poetisas favoritas! Queria poder ajeitar os cabelos já oleosos e bancar uma silhueta cheia de mistério e com um drink na mão fingir uma irritante naturalidade, pedir uma foto e terminar a conversa apelidando a escritora de Aninha. Não consigo. Mantenho uma grave distância e pareço um maníaco olhando freneticamente até que eu valide 15 vezes o óbvio constatar. Demorou idas e vindas ao banheiro até eu conseguir passar por ela e dizer olhando para baixo que era um fã de carteirinha e conseguir um abraço rápido, mas com um pouco mais de vontade. Nenhum clique foi tirado e nem pedido.
Com uma outra poetisa, que também admiro, chamada Prisca Agustoni decidi tomar coragem e enfrentar uma fila para um autógrafo. Ao chegar a minha vez e olhar envergonhado para ela, sorri, entreguei o livro e arrisquei: “e esse mundo das editoras, né? Difícil demais!” Ela me olhou desconcertada e, sem entender o meu approach, respondeu: “Vai melhorar! Vai melhorar!”
Eu acreditei.




Lucas Galati
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pouquíssimas pessoas me fariam quebrar o silêncio para dizer o quanto admiro o trabalho delas. sempre acho que vou estar incomodando.