Uma árvore para vocês...
Não acredito em Deus, não consigo entender o alvoroço ou a psicose em torno do futebol, Romero Britto me envergonha e livros de autoajuda me assustam mais do que a história de Emily Rose.
Aos quase 35 anos, entendi que viver é um verbo que voa veloz e voa sozinho, sem sinônimo, sem cópia. Nenhuma dica ou conselho de outrem pode ser bom, totalmente compatível ou aplicável e obviedades sonolentas já levaram a humanidade a um poder de análise e de interpretação tão rasos que os afogamentos se dão no primeiro parágrafo. “Gostei, mas achei muito difícil”. “Não achei claro”. “Estava confuso”. “Um montão de palavras estranhas”. “Não entendi nada”. E por aí vai…
Se eu tivesse distanciado ainda mais o lé do cré, eu teria a audácia de mostrar os absurdos que você encontra na minha pseudo-área de atuação dentro do mundinho explosivo de Zuckerberg. A poesia dentro da hecatombe virtual assusta justamente pelos elementos descritos acima. Em 90% dos casos, a poesia em si deixou de existir. Sucumbiu. No lugar, frases de efeito preguiçosas e ensinamentos de autoajuda que apenas Augusto Cury aplaudiria. A manutenção de uma rima barata, vendável e absurdamente desprezível. Não suficiente, a tal “poeta” com seus milhares de seguidores abre as redes para dizer que mete processo em quem copiar frase dela. Se o meu mau humor destruir a minha racionalidade algum dia, mando DM mostrando as 45 mil pessoas que já tinham postado ou escrito a mesma frase — BEM antes dela e da genialidade que só ela acredita.
Não ando bem. A ansiedade comeu todas as minhas unhas, trouxe uma angústia que queima o meio do meu peito e estou tão hipocondríaco que anteontem jurei que estava com uma doença que atinge apenas esquilos, moradores da tundra americana. Não se preocupem. A terapia está em dia e daqui 7 anos, tudo passa. (Risos e pânico).
Não há dúvidas de que todo ranço bebe de um tônico primeiro. Mas se a autoajuda já me incomodava, ela era apenas um broto, uma vírgula, um começo do que hoje passeia alegre pelas ruas: o coaching. Um megazord assassino, uma evolução errante e descontrolada do antigo e saudoso CARPE DIEM e que está presente nos manuais das empresas, na fala do tio bolsonarista, nas pílulas virais que adoecem as redes sociais com pessoas tremendo enquanto o guru solfeja um mantra para curar as agruras da alma.
Todas essas voltas para dizer que eu realmente ando só. Talvez, eu tenha sido um garoto extremamente obediente e nunca me aventurei para ver o que acontecia do outro lado do muro. Talvez, eu sempre estive do outro lado do muro e o discurso hétero, branco, rico, cis nunca me representou. Talvez, as quedas tenham sido tantas que a minha armadura é redobrada e para eu confiar só com o tempo. Muito tempo. E mesmo assim, eu me decepciono cotidianamente.
Por não saber confiar num Deus, num guia, num molde e até mesmo num novo amigo, viver se torna realmente uma experiência solitária. Não sei ser de outra forma. Não mais. Caminho no sentido de gostar ainda mais de mim. Isso tem sido bem traiçoeiro. Mas a literatura tem servido, mais uma vez, como um experimento de escape fantástico. Quando eu me perco nela, eu esqueço de todos os traços que eu me odeio e percorro parágrafos me repensando. Gostando mais de mim. Aliviando questionamentos que eu ainda não me respondi. E que demorarei…
Além da literatura, perco o meu tempo admirando as árvores. Depois do livro “A ilha das árvores perdidas” da escritora turca Elif Shafak — que eu SUPER indico — aprendi a encontrar um significado maior nelas. Em especial, as maiores, as que eu não encontro o topo. Ando pelo parque e penso a história por trás daqueles troncos, a rebeldia para se manter viva, a resiliência em cada ramo, as folhas que nascem, as que caem, o tempo natural erguido como um totem. Acho que é isso. Árvores são como totens, olham acima de nós, nos protegem, abrigam. Chegam mais perto das nuvens e vencem o asfalto.
Pronto! Minha devoção frutífera. Algo que eu realmente venero. Que não sai da moda. Um modelo a ser seguido: inesperada, revoltada, grandiosa obra natural. Faz a gente não esquecer do nosso tamanho. Da nossa pequenez. De como somos previsíveis. Da nossa finitude angustiante.
Um beijo e uma árvore para vocês!
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