Um furacão chileno
Desde muito cedo, os livros estiveram ao meu lado. Um esforço exclusivo e insistente da minha mãe que sempre desejou que eu desenvolvesse a paixão que ela gostaria de ter. E tendo também a acreditar que ela, inconscientemente, já sabia que a literatura poderia ser uma excelente companhia e uma maneira de possibilitar um mergulho seguro atrás das minhas respostas.
Eu nunca me acostumei com a falta de sentido. Nunca me satisfiz em não entender uma equação de segundo grau ou o agente catalisador que me levou a ter um ataque de pânico. Sendo assim, o recheio que umidifica os entres do meu cérebro agitado são perguntas…e mais perguntas. Eu queria demais, mas ainda não aprendi a sossegar a mente. Respirar fundo me entedia, yoga faz eu achar que estou numa mesa para sacrifícios e reiki ou acupuntura ativam a minha síndrome das pernas inquietas. É terrível e angustiante.
Nos últimos meses, não me pergunte exatamente como, consegui decolar ainda mais e a dificuldade com a tal falta de sentido escalou. Com um S a mais, deScolei da realidade que me envolve e pude perceber a humanidade, quase fora dela. Estranhíssimo, não? Bem-vindo ao universo de ponta-cabeça que me acorda todos os dias. O exercício inesperado fez eu enxergar o ser humano em formato one-hundred-percent animalesco. Admirava atentamente os comportamentos sociais ou o que poderia explicar a experiência radical ou artística? Chafurdei numa lista mental de descrição dos sentimentos mais triviais, só que por um ponto de vista totalmente analítico; senti um medo da porra e quis questionar o que está por trás do escuro que segura o planeta Terra.
A prática provocou crises de choro e de angústia extrema, além de poemas belíssimos que guardo em segredo num computador velho. Quem sabe um segundo livro? Não agora. Afinal, ainda acredito na potência de VERDE, VERMELHO E CINZA até para me ensinar a cultivar a frustração que faz parte da caminhada do escritor ou do poeta. Fato é que ainda embebido dessas divagações salgadas e um ansiolítico diário que evita o nó de marinheiro na garganta, a literatura, mais uma vez, aponta para um rumo mais claro e um rascunho de resposta que surfa no maremoto de interrogações assombradas.
Agarrado nessa ponta de iceberg, abri a primeira página do POETA CHILENO de Alejandro Zambra. A descoberta desse nome foi pelo meu dedo insistente nos fluxos indistintos da Internet. Ouvi um, dois, três comentários positivos e logo, o livro estava como pedido de amigo secreto na lista dos presentes de Natal.
Eu não sei e nunca quis fazer crítica de livro. Muitas pessoas pedem isso, até mesmo na página dos Andantes em outras plataformas, mas eu não gosto. Primeiro, por achar que o trampo é imenso e não estou afim de produzir um vídeo raso que diminua o tamanho da obra analisada. Segundo, não sei se sou bom em medir as palavras ou ser polido, quando achar o livro uma merda. E terceiro, quem sou eu para definir o que é bom para você. Não navego bem por qualquer indício de auto-ajuda e se eu terminar assim, prefiro o eterno ostracismo ou barbitúricos paquidérmicos que me tirem do prumo de uma vez por todas. Onde está o Lucas? Começou a aconselhar as pessoas e hoje, completou duas semanas de sono induzido.
Por outro lado, não posso mentir e dizer que não há uma estranheza no que te aproxima de um livro. Há bons anos caminho por obras literárias dos mais diferentes estilos, mas nenhuma me prendeu como essa e justamente pela simplicidade e uma escrita que eu não consegui parar de invejar até agora. Definitivamente, você não percebe as quase 430 páginas de uma história que me transportou para a realidade da obra. Vou repetir: R E A L I D A D E.
Poeta chileno é uma história cotidiana, mundana e enlouquecidamente poética e criativa. Eu que já conheci o Chile, me arrependo de não ter lido esse livro antes da viagem. E a companhia de Gonzalo, de Vicente, de Carla, de Pru — personagens da obra — farão falta nos meus dias, agora, abstêmios.
Eu estragaria o livro inteiro, com qualquer detalhe mais profundo da narrativa. E não quero tirar a beleza que habita nesse mergulho pela poesia chilena e em como o autor encara a importância daqueles que decidem fazer poesia. Sigo a premissa de Zambra: quem tem um livro de poesia, poeta já se fez. Eu quero acreditar nisso e lembrar que os versos tem me explicado muito mais e agarrado a minha mão em direção ao meio do furacão. Acho que deve ser isso:
a resposta está em nenhum lugar por aí…
Lucas Galati
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Quero ler !
ouço muito boas referências do zambra, mas ainda não consegui começar a ler.