Sobre o amor

Quando inverteu o amor, 
teve que se despedir.
Ao esperar o amor,
costurou cartas com linhas de fogo.
Se esvaziava o amor, 
as flores e os quartzos perdiam a graça e
estrelas despencavam os destinos. 
Preferiu chorar por amor,
mas perdeu as nadadeiras e
lágrimas acumuladas 
podiam ser mergulhos ou
espelhos. 
Engoliu o amor por receio e
uma árvore nasceu das entranhas.
Esqueceu do amor,
mas a arte riscava o papel.
Cantou para o amor e
teve a voz roubada pela Lua. 
Ao duvidar do amor,
conheceu o samba, 
conheceu o jazz e as esquinas
já escondiam os beijos. 
Numa tarde de maio,
o amor se fez inteiro e
atravessou a principal avenida
que ligava todas as artérias que bombeavam
sangue até a bigorna, o estribo, o labirinto que,
inquietos, 
ouviam um segredo. 

Lucas Galati

os_andantes

Ilustração: Nina Pandolfo

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