No dia em que ninguém passou
O Brasil é o país da boiada.
As dos cornos e quatro lustrosas patas são o maior bem nacional, celebridades consolidadas que entregam tudo na hora da passarela e mugem uma indústria mundialmente reconhecida. Também garantem o primeiro lugar no pódio em número de cabeças, um protagonismo disparado e amargamente espaçoso que destrói tudo o que vê pela frente.
Passam ao lado, o outro tipo estranho, com bem menos notoriedade e equilibrado por duas hastes e um córtex pensante. Falam pelos cotovelos, não se escutam e ao invés do feno ou da ração personalizada, se alimentam de um papel retangular específico categorizado por cores, valores precisos e estampas de animais que eles próprios assassinam.
Ambos se equilibram regidos pelo termo acima. É esta a visão padronizada e hobbesiana que urra imperativa e estica os seus tentáculos que chicoteiam as caras bundas bovinas e as costas sôfregas dos que vieram com a penitência da racionalidade. Passem! Passem! Não empaquem e quando a gringaiada chegar, quero o sorriso aberto e a malemolência nos quadris dessa tropical multidão “minotáurica”.
Só que, desta vez, o trajeto foi interrompido pela água que ainda umedece esse planeta à deriva, perdido no escuro. E ainda foi possível ouvir os gemidos quadrúpedes se afogarem em desespero e as lágrimas humanas se perderem liquefeitas na correnteza que tomou um estado inteiro. Ninguém passou. E o Leviatã negacionista foi derrotado por uma força translúcida e essencial para bois e para homens.
Os próximos passos se aterram na espera e na contagem dos mortos.
Lucas Galati
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