Minha FLIP inventada
Eu nunca fui à FLIP: a Feira Literária de Paraty. Eu também nunca visitei Paraty. Estive no Rio de Janeiro por um rápido final de semana com o meu ex-marido. Na época, eu tinha acabado de ganhar um zumbido constante nos dois ouvidos por uma causa indefinida. Estava enlouquecido e dormir só era possível com a ajuda de Rivotril ou Quetiapina. Ou os dois juntos.
O zumbido nunca mais foi embora. Lido com ele aos trancos e barrancos. Cada dia, ressoa uma nova frequência. Um apito diferente que o torna definitivamente inesquecível. Arrisco que seja multifatorial. Descoberta que não resolve nada e com a ajuda das anamneses de dezenas de médicos jogadas no lixo, intercalo as semanas com suposições escalafobéticas e alongamentos errados.
Caro leitor, ainda não enlouqueci. Nunca ter ido à FLIP e o nascimento diabólico do meu zumbido bebem de uma mesma origem: a dificuldade em encontrar espaço e tempo para fazer atividades que realmente me trazem alguma satisfação. Sou um exímio jogador na prática de me arremessar para o escanteio. E não para por aí. As contas gordas da vida adulta realmente chegaram e o cheque especial é um amigo de longa data. De tal forma, terceirizei o lazer. Deixei num outro plano na lista de prioridades que não tenho. Não sou uma pessoa organizada e detesto o Excel. Detesto. Mas “living la vida loca” tem saído pela culatra.
Fato é que a cachaça é reabastecida e a mesa do bar se torna quase um episódio de “Casos de Família”: TENHO MAIS DE TRINTA ANOS E NÃO SOU MILIONÁRIO. (Risos enfáticos de tristeza). As pretensões alucinógenas têm se desabado e a cerveja nesse calor faz um bem danado, mas não abastece o lado de dentro. E disso eu sinto falta.
Apesar de nunca ter ido, tenho certeza de que a FLIP deve ser incrível. Tenho certeza de que deveriam existir centenas de FLIPs por ano. Uma por mês. Em várias partes desse país continental. Tenho certeza de que um dia poderei arrumar o meu cantinho e vender os meus livros na feira. Quem sabe, ao lado de uma editora bem maior que se preocupe realmente com a minha obra e me ajude, ao menos, na organização do estande. Tenho certeza de que a FLIP deveria priorizar ainda mais quem está começando, as editoras menores, do que os mesmos rostos conhecidos de sempre. Tenho certeza de que a literatura se mantém viva por esses espaços de discussão. Que eles permitem que os autores avancem, melhorem. Ou que, pelo menos, saibam como fazer. Encontrar os seus motivos. As suas verdades. As suas causas.
Escrever é um processo solitário. Ainda bem. Mas todo texto voa e encontra novos abraços. Todo texto se transforma quando lido e permanece, muitas vezes, alojado bem longe de um zumbido. Mais perto de um órgão vermelho que nunca desiste.
Lucas Galati
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Obrigada pelo texto! Obrigada por escrever.
É por ai... "Eu tenho mais de 30 anos, eu tenho mais de mil perguntas, sem respostas..." E partilho desse zumbido sem graça no ouvido, ele está aqui. Mas já disse a ele que eu não o convidei. Espero que ele se retire logo, e tenha a elegância do conde Drácula, de só entrar em lugares onde lhe convidam ! Rs Espero que o seu zumbido, se compadeça de ti, e lhe deixe em paz ! ^^