E S S E R E T N I
Um cigarro aceso e o livro que descansa ao lado. São as ultimas tragadas. Engulo a fumaça e assopro as letras. Palavras curtas se equilibram no ar. Curtas, mas ensopadas de significado. Algumas despencam ao longo do voo agitado. São mais pesadas, incomodam mais e desaparecem antes do próximo parágrafo. Palavras que aquele livro amanhecido me deu. Palavras amarelas. Palavras de sempre — que vieram comigo. Palavras que eu nunca escrevi.
A inspiração me brota quase assim. Os olhos fechados abertos pelo outro lado. Levanto da cama num susto elétrico e capturo a ideia que assoviava sonhos e ousadias. Ela se debate e eu a limpo. Lapido vagarosamente até que atinja o estado mais brilhante. Tem dias em que a ideia ganha de mim e eu me perco num choro confuso, mas sincero.
A inspiração pode vir acompanhada em traje de luxo. Os grandes clássicos da literatura já me renderam bons contos, uma poesia esquisita ou o tema de um possível livro. Escrever e ler são práticas atadas. Caminham juntas, se alimentam, se melhoram. Nem sempre inspirações cabem num instante. Por vezes, precisam de mais tempo. Demoram para ganhar forma e desmanchar no papel.
No entanto, por trás desses ou de qualquer outro cenário imaginativo, o interesse é o agente catalisador. Apenas agarrado nele, o lápis é apontado e as linhas se formam. Pelo interesse, os passos dançam e um enredo conquista as suas páginas.
E “I N T E R E S S E” é uma palavra paquidérmica, fácil de capturar. Por outro lado, desaparece como uma gota, perde-se rapidamente em agendas lotadas, em rotinas asfixiadas por costumes estúpidos, na enxurrada virtual que se arrasta nos dedos do homem moderno. O interesse se perde quando se deixa para depois, num desengano improdutivo, na busca pela risada, pelo gozo, pela dose diária da felicidade doentia.
Interesse não nasce e nem vinga da imposição — mais uma obrigação nas metas a serem cumpridas ao longo de uma vida. Interesse é uma canastra, um dia de sorte, a chuva que caiu na hora exata. Interesse é desafiar o horizonte e aceitar a travessia, se permitir colorir um compromisso paulatino. Nenhuma algema, nenhum cadeado. O interesse não pede assinatura, mas precisa de cuidado, da constância para maturar novas letras e assoprar fumaças que enganam os sentidos.
Lucas Galati
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