Dear Mr. Me
A primeira pessoa é um objetivo e um receio. O processo de assumir o centro do palco e verbalizar os altos e baixos de um protagonista se faz urgente, mas a contrapartida foi também uma estratégia de proteção que me vestiu muito bem. E por muito tempo…
E não esperem certos e errados. Já provei por A+B que não sou bom nisso. A primeira pessoa desnuda e revela as intenções guardadas atrás do coração. As cicatrizes que me recolheram, voltam a sangrar com a palavra. E eu quero estar pronto, mesmo que ainda em fase de teste e protegido pela benção do gerúndio. E se há um motivo para a criação de uma newsletter é que ela não seja a reunião de palavras vazias ou conselhos motivacionais deprimentes, mas um espaço de reconhecimento, de encontro comigo e também com vocês. Que essa aventura permita, pelo menos, movimento. Afinal, Andantes foi um nome escolhido.
Por outro lado — sim, ele chegaria. Proponho um desafio! Entre em alguma rede social e mergulhe por 30 segundos no seu feed. E aí? O que você viu? Aliás, o que você ouviu? Um conselho? Uma dica? Um novo elixir? Uma nova mãe? Uma piada ruim ou preconceituosa? A opinião sobre o último capítulo do BBBosta? O sagrado pão e circo contemporâneo. Um dia, falaremos sobre isso, apesar de saber que não gostar de BBB é ultrapassado. Eu juro, de pés juntos, que recebi essa chamada de atenção: Psiu! Não fala que você não gosta, pega mal. Nesse momento, eu respirei três vezes e me deixei levar pela imagem da ossada de Guy Debord tremendo no caixão.
O espetáculo, como organização social da paralisia da história e da memória, do abandono da história que se erige sobre a base do tempo histórico, é a falsa consciência do tempo.
(Guy Debord - A sociedade do espetáculo)
O mundo está dominado por primeiras pessoas. Todo mundo tem o que dizer sobre tudo — o tempo inteiro. Ou até te ENSINAR num curso que pode ser dividido em suaves prestações: curso para escrever, curso para ter ideias, curso para ler, curso para cozinhar, curso para dormir melhor, curso para domesticar gatos, curso para não domesticar gatos, curso de arte francesa, de ponto cruz, de cruz invertida, de como viajar numa van… curso para existir. E esse eu me inscrevi e gosto muito. Se chama divã, já falamos dele por aqui.
Toda essa ciranda para reforçar o quanto esse holofote do me, me, me ainda me perturba. Por isso que não pretendo fazer desse espaço apenas um diário virtual. Busco realmente focar na literatura e na cultura. Seja em forma de crônica, conto ou poesia. Mais pra frente, quero migrar para outras plataformas e alimentar novos formatos de andanças, mas para isso preciso de recursos. Infelizmente. Por sinal, não contaram? Disseram que foi publicada a primeira versão da newsletter dos Andantes para assinantes pagos e que está um arraso. Um conto belíssimo chamado Clandestino e dicas culturais que compuseram a semana do presente autor. Fica a dica/convite e o motivo explícito de ter aberto esse modelo pago para os assinantes.
Mas quero terminar de forma mais leve, sem falar dos meus milhões — risos negativos. As últimas semanas serviram para nós, pobres mortais, limparmos a face direita e tomarmos uma bolacha bem dada até a cuca tremer e a gente passar a repetir dim dim sem parar. Afinal, bolso pesado faz até a justiça ficar cega. É o que ensina, pelo menos, a grande paixão do brasileiro. Um golaço que vai demorar para ser esquecido, hein?
Voltando ao gosto terroso da realidade, o meu primeiro livro: VERDE, VERMELHO E CINZA completou um ano da publicação. E neste final de semana, vou ficar com ele debaixo do braço e cheirar cada página, tentando pensar em estratégias para fazer você, aí do outro lado, se interessar e querer provar um pouco de poesia. Brincadeiras à parte, assumo, em primeira pessoa, que celebro e ritualizo as minhas conquistas. Estou pensando num bolo e uma vela que exploda tudo pelos ares.
Lucas Galati
😜Só para lembrar que você pode adquirir o meu livro AQUI!
👀E se quiser me acompanhar nas redes virtuais:
o problema de tanto “eu, eu, eu” é que todo mundo fala, e ninguém escuta.