Sei de todas as problemáticas. Os males que são constantemente anunciados e expostos no ato perverso de uma tragada caprichada. Sei também do meu background familiar, gerações que tiveram que lidar com problemas cardíacos ou que nem tiveram tempo para isso, o infarto veio numa força fulminante. Sei que aumenta a ansiedade, que pode causar impotência, que piora o ronco e produz um pigarro insistente que, dificilmente, vai embora com goles de água ou mordidas em pedaços de pão. Sei que deixa as roupas fedidas e que a fumaça também impregna nos cantos da casa. Os contras nem precisam ser calculados, ganham de lavada e admiro quem abandona por completo esse vício sufocante.
Dito isso, solidifico que este texto não cultiva a intenção de defender o cigarro. Não mesmo. No entanto, quem está aqui há algum tempo, sabe que faço deste exercício de criar novas linhas, uma excelente maneira de esticar a minha narrativa no varal e encarar o que deve ser encarado, derramar sobre este papel virtual dilemas, amarguras, felicidades, construções pessoais ou inventadas, mas que percorrem, inevitavelmente, as minhas eletricidades mais internas.
E nesse oceano particular, nunca soube me equilibrar na superfície. As braçadas rapidamente se tornam mergulhos abissais. Não por escolha, mas, talvez, pelo meu Netuno na casa 1 ou um carma arrastado das vidas passadas. E sei que há sempre a chance de racionalização absoluta, treinamentos militares para deixar de sentir e forçar um nado protegido e raso, mas nunca quis viver pela metade. Tal predileção me trouxe uma estrada solitária e repleta de armadilhas.
O cigarro entra justamente aí. Uma importante e fiel companhia.
Nem sempre me acalmou, nem sempre foi a melhor opção, mas nunca me deixou sozinho. E sei que soa como uma defesa adicta risível. Sei também que, talvez, seja esse o princípio primeiro que faz alguém se viciar em qualquer outra droga, em produtos estéticos que fazem o seu lábio inchar ou em coleções arrepiantes de adesivos. Mas a nicotina, por vezes, foi uma enorme aliada. Acender o cigarro e conseguir enfrentar lentamente o medo carnívoro, a angústia se desprender junto com a fumaça tóxica expelida dos meus pulmões e uma ideia intransponível e irrefreável, se apagar junto com a bituca no cinzeiro.
E não sei exatamente o que eu quero dizer com tudo isso. Não sei nem se há uma intenção por trás deste texto. Apenas que os vícios, talvez, sejam parte e não os verdadeiros criminosos a serem incansavelmente perseguidos. Talvez, pudéssemos falar mais dos motivos e não das consequências e de sintomas assustadores. Talvez, a cura realmente esteja na palavra que eu não conheço, mas sinto se desprender e se soltar numa nuvem que me esconde, ao mesmo tempo que me revela. Toda vez que eu fumo.
Lucas Galati
Obra: René Magritte
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a consciência é o primeiro passo para abandonar um vício.
Lucas, eu amo fumar 🥹 não queria, mas não me vejo sem meu cigarrinho. Já baixei apps pra tentar parar, mas vou tentar um programa do SUS que tem aqui no postinho do bairro. Quero viver mais com minha filha e sei que essa gostosura vai me cobrar caro.