BRUTALITY
Antes tivesse sido uma. Trinta e cinco, ao todo. A sangue frio. Nenhuma compaixão. A caneta em riste e a assinatura cravada num papel morto. Risos ao fim e sem parênteses dessa vez. Gargalhadas abertas e as mãos nos bolsos — são os meneios do dim-dim entrando em contas escusas. As fotos reveladas eternizaram o aperto de mãos e os seguidos brindes vampirescos. Cheers, mate! Uma memória brasileira que deve ser preservada. A memória de mais um assassinato ambiental.
Quatro décadas sipping freely. Trinta e cinco facadas certeiras no meio das costas, bem em frente ao litoral alagoano. Quem precisa de mar para dar mergulho? Mergulhão bem dado é em terra firme. Crawl explodindo as profundidades. Maquinário pesado até atingir mil e duzentos metros de fundura. Atingiu a rota certa? Agora é só sugar. O sal estalado, um diamante bruto na frigideira antiaderente do empresariado. Vale tudo pelo PVC e pela soda cáustica.
E não me venha com serviço pela metade. Esse Brasil que muge de vontade está sempre preparado para mais uma permissão descabida. E a natureza se renova. E o tempo passa. E o que não tem remédio remediado está. Afinal, o que importa é o andar lunar da minha cobertura, o arranha-céu que faz a minha cozinheira preparar desserts com gosto de nuvem. Sonhos culinários com a boca cheia e sem tempo para falar de minas escuras.
E foi uma só, papi do céu. Uma só que deixei de preencher. Poxa! Quatro décadas brincando livre de broca assassina, uma eu esqueci. Sem querer, tremeu a terra e ela afundou. Afundou e levou uma capital junto. Welcome to Brazil. Brumadinho ainda nem secou na memória e agora perdemos parte de Maceió. Um combo avassalador. Fatality! Ou melhor BRUTALITY! Foi em nome do PROGRESSO estampado na bandeira nacional.
Ouviram do Ipiranga que a história se repete, mas dessa vez, sem centenas de mortes — por enquanto. Apenas milhares de pessoas sem casa e famílias sendo expulsas da noite para o dia dos bairros onde cresceram, mas o ser humano é resiliente. Só chorar que passa. Vira narrativa boa para contar. Anedotas de família.
E quanta pergunta que a gente fica, né? Quatro décadas de nados sincronizados nas funduras alagoanas e ninguém viu? As manchetes não deixaram de estampar o descaso da cantora americana Taylor Swift pelos estádios brasileiros ou os perigos da guerra na Ucrânia, mas uma tragédia nacional que afundaria parte de uma capital brasileira não era, ao menos, interessante de ser apurada?
Divulgada?
Evitada?
PS: A resposta jaz no fundo da décima oitava mina. Quando encontrá-la não grite: BINGO! Grite: BRASKEM!
Lucas Galati
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Estive em Maceió em março deste ano e passei ao lado do bairro do Pinheiro, com o taxista comentando o ocorrido, que eu já sabia meio por cima. Uma cidade tão bela, um descaso tão grande! Realmente absurdo! Abraços e parabéns pelo texto certeiro!
bom demais!!