A volta dos que não foram
Gosto quando as sextas-feiras se tornam um dia de auto-cuidado e descanso. Um feito venerável, quase nunca conquistado pelo meu desejo feroz por uma mesa de bar e uma cerveja bem gelada. Ontem, porém, não apenas dormi cedo, como não arrisquei uma gota de álcool. Um respeito beato também para me defender dos sintomas evidentes do cansaço, que já foi tema dessa newsletter. E por mais um motivo, esse bem mais precioso: assistirei hoje (09/03/2024) ao show de Maria Bethânia. Pela primeira vez.
Há muito tempo, entro em filas presenciais e/ou virtuais para formalizar esse encontro, mas até agora, a minha saga não tinha sido bem sucedida. Assumo também que não queria que essa primeira vez fosse num festival. Não acho que seja a melhor maneira de aplaudir Bethânia. Em novembro, antes do meu aniversário, o anúncio inesperado de um show fez o dedo do meu namorado coçar e pronto! Mais algumas prestações na extensa lista que justificam o uso do cartão de crédito. E, claro, um sorrisão na cara que compensou qualquer parcela.
Sim, meus amados. Eu também tremi com a notícia de que teremos um dia de Allianz com ela e o mano Caetano. Não estou pronto ainda para falar disso, mas afiei o meu cartão ontem e o cheque especial é quase como os copos de cerveja do início. Recaem, no dia seguinte, sobre os ombros como uma doença grave, mas também justificam uma noite de alegria e intensidades. E não vou negar que ressaca é costumeira com as notícias desse meu Brasil. Não preciso nem escolher o tipo de álcool.
Gosto quando o bocão do ralo virtual é aberto para falar que a censura está de volta. De volta? E vem o estudioso justificar que a história é cíclica. Aceita que dói menos, mon amour. No entanto, aceitar exatamente o quê? Que o Brasil esconde e apaga qualquer lembrança do período mais truculento da sua historiografia moderna? Você, que está aí do outro lado, me diga um museu dedicado aos horrores da ditadura militar? Que dê voz, lenços e protagonismo aos que perderam entes queridos? E como estão os culpados? Presos ou em Miami? O Brasil de hoje assiste ao levante das placas de INTERVENÇÃO MILITAR e de bandeiras de Israel na Avenida Paulista. E o que se faz com isso? Meme?
Não tem como retornar o que sempre esteve aqui. As vezes, só um pouco mais escondido ou ensopado de eufemismos. Aprender os horrores do regime militar pelos monumentos… que não existem. Admirar um muro pintado de cinza e imaginar o que alguma vez esteve ali escrito. Como funcionou essa prisão? Como era mesmo o nome dela? E é censurar livro o que te impressiona? Que bom! Já é alguma coisa. Afinal, quantos não precisam deles ainda para entender o Brasil? Quantos não se apoiaram na literatura para refletir sobre a morte de estudantes que defendiam um caminho ou ter argumentos suficientes para condenar a fala de um deputado lunático em defesa de um genocida?
A moral da história? O deputado virou presidente do Brasil.
Mas calma lá! A caçada continua. Com a atuação atroz e assassina da polícia na Baixada Santista. Deram o nome de OPERAÇÃO VERÃO. Um verão bem vermelho com o gostinho frio do inverno. 39 mortes — pelo menos. Quer mais um brinde? Os dois fugitivos mais procurados do país seguem fugindo e o que a gente vê na tevê é militar de frente, de costas. Um documentário sobre os drones que enxergam de longe o calor humano. E quem sabe um documentário atual para falar dos horrores do sistema carcerário brasileiro? Ou sobre as facções criminosas que dominam o Brasil?
Calma, Lucas! Ainda tem livro sobre isso, mas já está em promoção.
Lucas Galati
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A construção de memória no Brasil é urgente. E compartilho do mesmo sentindo do início da escrita. Um abraSUS! 🌻
certeiro, como sempre.