A ÁGUA de Ruth e o SERTÃO de Rosa
…só aos poucos é que o escuro é claro.
( Grande Sertão Veredas - João Guimarães Rosa )
A meteórica passagem de Édouard Louis pelo Brasil não poderia ter vindo em melhor momento. Durante as últimas semanas, boas surpresas literárias serviram para revigorar de vez os ânimos por aqui e afastar uma inanição incômoda que vinha se instalando desde a minha separação. O escritor francês, para aqueles que ainda não se aventuraram em suas obras, remodela a auto-biografia num texto combativo, altamente politizado e atento aos traumas e intempéries de uma vida marginal e violenta no país europeu que mais se vangloria e se entorpece da dita cultura ocidental.
Estranhamente, foi em meio a essa estrutura caótica, nada convidativa, carregada de luta e impossibilidades que as linhas de Louis vão resistir e se esticar. Bem distantes dos flashes dos tapetes vermelhos da academia ou das doses de champagne esperadas para aqueles com livre acesso ao intangível mundo literário.
A força da palavra de Louis não se fez e nem foi exposta aos sete cantos para ser digerida junto aos canapés de foie gras nos eventos climatizados das bienais e do metiê editorial. As frases entalam e asfixiam a alta repartição, mas transitam facilmente pelos bueiros e vísceras daqueles que nunca poderiam adentrar ou pertencer aos bangalôs da exclusividade ou que esculpiram a sua identidade através dos inúmeros ataques desumanos contra a sua diferença.
Continue a leitura com um teste grátis de 7 dias
Assine OS_ANDANTES para continuar lendo esta publicação e obtenha 7 dias de acesso gratuito aos arquivos completos de publicações.